"A guitarra é a única coisa da minha vida que não ferrou comigo."
Dave Mustaine

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Álbum Branco agora é 40tão!!!

Em 22 de novembro nascia oficialmente o então mais novo álbum dos Beatles, intitulado THE BEATLES. Devido à sua capa totalmente branca, não demorou muito para que ele ganhasse o apelido de Álbum Branco, que é como é conhecido até hoje. Mais do que qualquer outro, esse álbum demonstrava claramente a individualidade de John, Paul, George e Ringo.

Mas o Álbum Branco não se tornou um marco à toa. Pela primeira vez na história era editado um álbum duplo, fato que na época incomodou bastante o produtor George Martin, que era a favor do lançamento simples. A essa altura Sir Martin já não tinha mais como impedir a decisão do quarteto e acabou tendo que ceder. Curioso é que mesmo sendo um duplo, muitas músicas acabaram ficando de fora, tendo sido algumas delas lançadas nas carreiras solo de Lennon, McCartney e Harrison e em singles e álbuns posteriores dos próprios Beatles (entre elas “Hey Jude”, “Mean Mr. Mustard”, “Junk”, “Child Of Nature”, “All Thing Must Pass” e “Not Guilty”).

O Álbum Branco é um trabalho de diversidade repleto de histórias, com músicas que não se falam, mas que ainda assim, mantém unidade. Porém, a maior polêmica que o envolve não diz respeito à sua música como foco principal e sim sobre os assassinatos cometidos por Charles Manson e seus seguidores, que pregavam uma guerra civil em favor da separação de brancos e negros. Manson dizia conversar com os Beatles através de mensagens subliminares embutidas em músicas como “Helter Skelter”, “Blackbird” e “Piggies”, e usou isso como argumento para justificar seus maus costumes.

Mas o que importa mesmo são músicas, então vamos entendê-las.

Álbum Branco música à música:

Back In The U.S.S.R. - Segundo Paul McCartney, se trata de uma brincadeira com o cantor e guitarrista Chuck Berry (autor de “Back In The USA”) e os Beach Boys. Paul comenta que a coisa de substituir USA por USSR e garotas da Califórnia por garotas da Ucrânia era, com certeza, bastante divertido. A gravação foi realizada sem a presença de Ringo Starr, que havia brigado com Paul por discordar de como a bateria deveria ser tocada, tendo o próprio Paul tocado o instrumento. O som do avião foi captado de um jato no aeroporto de Londres.

Dear Prudence – Essa foi gravada no mesmo período de “Back In The U.S.S.R.” e também teve Paul na bateria. John Lennon a escreveu como um incentivo à Prudence, irmã da atriz Mia Farrow, que fazia parte do mesmo grupo que visitava a Índia. A moça se encontrava em um momento depressivo e “Dear Prudence” a convidava para “ver o sol”.

Glass Onion – Fã, em geral, é louco... e os fãs dos Beatles não poderiam ser diferentes. Aqui John “ri” da cara das pessoas que, incansáveis, interpretam letras e buscam mensagens ocultas na obra da banda. "Glass Onion" foi feita para criar o caos na mente dessas pessoas. Fazendo várias referências a outras canções, John cita "Strawberry Fields Forever", "I Am The Walrus", "Lady Madonna", "The Fool On The Hill" e "Fixing a Hole", usando dobradinhas totalmente sem sentido.

Ob-la-di Ob-la-da – Mais uma daquelas historinhas que Paul gostava de contar. Os personagens? Esses eram Desmond e Molly... ele dono de uma carrocinha no mercado e ela uma cantora. A sessão de gravação foi tumultuada, visto que Paul nunca se dava por satisfeito e o restante da banda, depois 42 horas de trabalho, já não aquentava mais (basta ouvir o desespero de Lennon ao tocar o piano na introdução da canção). Paul queria lançá-la como single, mas os outros três Beatles não gostaram muito da idéia.

Wild Honey Pie – “Wild Honey Pie” foi gravada apenas por Paul, enquanto George viajava e John e Ringo trabalhavam em “Yer Blues” e em “Revolution 9” em outro estúdio. É uma canção bem simples, de poucos segundos, que brinca em cima de outra música de Paul chamada “Honey Pie”, do mesmo álbum.

The Continuing Story Of Bungalow Bill – Típica tirada do humor britânica. Em “Bungalow Bill” Lennon brinca com um americano que também meditava na Índia, mas que teve de se ausentar por uns dias para caçar tigres, voltando mais tarde para seus estudos espirituais. No dia da gravação, todos que estavam nos estúdios da Abbey Road foram intimados a cantar o refrão e promover aquela bagunça no final da canção, incluindo as esposas Yoko Ono, Pattie Boyd e Maureen Starr. Foi Yoko também a responsável pela voz infantil que canta a frase “But when he looked so fierce”.

While My Guitar Gently Weeps – George Harrison teve quatro músicas no Álbum Branco e “While My Guitar Gently Weeps” foi a mais bem sucedida comercialmente. Mesmo sendo um álbum duplo, foi difícil para Harrison conseguir espaço para suas canções. Certa vez o próprio declarou: “Tive que fazer umas 10 de John e Paul antes que me dessem uma chance”. O destaque ficou para o solo de um tal convidado especial chamado Eric Clapton. A presença de Clapton serviu também para entusiasmar os outros Beatles a trabalharem na canção. Por razões contratuais Eric Clapton não teve seu nome creditado.

Happiness Is a Warm Gun – “A felicidade é uma arma quente”... John teve a idéia do título a partir de uma revista sobre armas. Em mais uma letra perturbadora Lennon dizia coisas como “Ela não é uma garota que perde muito. Ela conhece bem o toque da mão de veludo como um lagarto numa janela” e “Preciso de um pico porque estou indo para baixo”. A música sofreu acusações de fazer referência às drogas (onde “arma” seria “seringa”) e de carregar apelo sexual, tendo inclusive a sua execução banida da rádio BBC.

Martha My Dear – Reza a lenda que Paul foi o único Beatle a participar da gravação, fazendo baixo, piano, guitarra, bateria, palmas e vocais, tudo acompanhado de 14 músicos de metais e cordas. A música foi feita em homenagem à cadela de Paul chamada Martha e teve arranjo de cordas de George Martin.

I’m So Tired – John a escreveu enquanto estava na Índia se cansando com a meditação de Maharishi Mahesh Yogi. A letra reflete os “cuidados” de Lennon para combater a insônia, como alguns drinks e cigarro. Em uma passagem ele canta: “Embora eu esteja tão cansado, vou acender outro cigarro e xingar Sir Walter Raleigh. Ele foi um idiota estúpido.” (Sir Walter Raleigh foi o responsável por introduzir o tabaco na Inglaterra).

Blackbird – Nessa bonita balada de dedilhado singular Paul aparece sozinho com o seu violão. Propositalmente, McCartney pediu que fosse colocado um microfone junto aos seus pés para que houvesse a captação da marcação de tempo que ele fazia, criando uma “imagem” percussiva.

Piggies – George estava inspirado quando fez. Alguns pesquisadores dizem que a letra faz referência ao romance inglês “Animal Farm” ("A revolução dos bichos"), de George Orwell. Na letra temos porcos pequenos que apenas “comem” lama e porcos grandes, com roupas limpas e que jantam bacon (de porcos pequenos) com suas esposas. Como curiosidade, temos o fato de que além dos loops com roncos de porcos tirado da biblioteca sonora da EMI, Paul McCartney fez questão de gravar um trecho imitando um porco.

Rocky Raccoon – Com humor, McCartney conta a história do caubói Rocky Raccoon, morador dos morros do estado de Dakota, que vai atrás de sua mulher, Magill, por ela tê-lo traído e fugido com um sujeito chamado Dan, só que o homem é rápido demais e quem acaba baleado é o próprio Rocky. Na gravação final o solo de piano ficou por conta de George Martin.

Don’t Pass Me By – Está é primeira música dos Beatles composta somente por Ringo Starr (pelo menos nos créditos), e levou cinco anos para ser finalizada. Da gravação participaram somente Ringo e Paul, juntos aos violinista Jack Fallon.

Why Don't We Do It In The Road? – Típico Blues composto por Paul, foi uma das últimas a serem gravadas e teve apenas Paul e Ringo nas sessões, pois John e George estavam acompanhando algumas mixagens em um outro estúdio. Em “Why Don’t We Do It In The Road?” Paul mostra porque é considerado um dos maiores cantores de Rock’n’Roll da história, desfilando com perfeição seus recursos vocais. John Lennon, que era grande fã da música, ficou bastante chateado ao saber que não o haviam esperado para as gravações.

I Will – Outra bela balada de Paul e a primeira feita para Linda Eastman (futura Sra. McCartney). Mesmo sendo uma canção simples, foram precisos 67 takes até que Paul se desse por satisfeito. Em “I Will”, McCartney gravou o baixo com a boca, ou melhor, “baixo de boca”, onde ele usou a boca para fazer o som de baixo.

Julia – Julia é uma declaração de amor de John para sua mãe, que apesar de não tê-lo criado, foi a principal incentivadora de Lennon em sua adolescência. Julia morreu atropelada quando John tinha apenas 17 anos e isso, junto à sensação de abandono, se tornou um grande trauma para ele e a principal causa associada à sua rebeldia. Foi gravada apenas por John, cantando e tocando seu violão, e carrega uma grande carga emocional.

Birthday – Uma forte influência de Little Richard... composta quase que entre os intervalos do filme “The Girl Can’t Help It” da “rainha do rock”, como o próprio Little Richard gosta de ser chamado, “Birthday” tem o resgate de Paul ao vocal rasgado e um John convidando para festa. A canção se tornou o “Parabéns pra você” dos rockers de plantão.

Yer Blues – É blues... algo raro na obra dos Beatles. Com Lennon no vocal, foi gravada ao vivo em um anexo do estúdio dois da Abbey Road. O objetivo era criar uma ambiência diferente, capturando o espírito blues. Curiosamente, a contagem de Ringo que abre a canção foi gravada dias depois.

Mother’s Nature Son – McCartney é o único Beatle nessa gravação, que conta a história de um jovem camponês pobre que se nomeia filho da mãe natureza. Além do Paul, participam também os músicos responsáveis pelos instrumentos de sopro.

Everybody's Got Something To Hide Except Me and My Monkey – Para essa existiram vários motivos. Os Beatles estavam na Índia e os dizeres de Maharishi tinham enorme peso para eles, vide o número de referências nas diversas canções deste período. Entre tantas frases, “Everybody’s got something to hide except me” era uma que chamou bastante a atenção de John. A parte onde Lennon inclui “and my monkey” é só uma brincadeira com um jornal inglês que na época publicou uma charge que mostrava Yoko Ono como uma macaca nas costas dele.

Sexy Sadie – Lennon escreveu essa como uma crítica ao Maharishi, após tomar conhecimento que o guru assediava discípulas... aliás, o nome original da canção era “Maharishi”, mas por pressão de George Harrison, que temia processos, o nome foi mudado. Até sua finalização, “Sexy Sadie” consumiu 35 horas de estúdio.

Helter Skelter – Unir o útil ao agradável, essa foi a proposta de “Helter Skelter”. Na época, Pete Townshend havia dado uma declaração que dizia que o então single do The Who “I Can See For Miles” era a canção mais barulhenta e crua que alguém já havia feito. A junção disso com o incômodo sentido em ser sempre “acusado” de só fazer baladas fez o Beatle tomar a atitude de criar algo ainda mais barulhento. Helter Skelter é considerada por muitos como o primeiro Heavy Metal a ser gravado. Existe uma versão com o tempo de 27 minutos, até hoje não lançada oficialmente, que foi registrada em uma jam.

Long, Long, Long – Depois da quebradeira de “Helter Skelter”, nada melhor do que a calmaria de George. “Long, Long, Long” é uma bela canção com uma letra que deixa dúvida em relação à sua abordagem: AMOR ou RELIGIÃO. O destaque nessa fica para o ruído que existe no final da canção, que foi conseguido como resultado da captação da vibração de uma garrafa de vinho em cima do amplificador de Paul.

Revolution – No ano de 68 Lennon resolveu que ia fazer revolução... e fez logo três. A primeira “Revolution”, com guitarras e bem mais agressiva, saiu em compacto como lado B de Hey Jude. Há também a versão feita de colagens sonoras (Revolution 9) que abordaremos mais à frente. Essa versão é basicamente a mesma música lançada no compacto, porém com um arranjo mais suave, que inclui violões e metais. Na letra John defende a revolução sem confronto, através da mudança individual.

Honey Pie – Feita por Paul ao estilo das bandas de jazz dos anos 20. A influência das Big Bands era muito forte na vida de McCartney pela presença de seu pai, James McCartney, que era pianista do segmento. Na gravação o objetivo era fazer soar como um registro antigo, meta que foi atingida... basta ouvir.

Savoy Truffle – George Harrison fez “Savoy Truffle” para homenagear o amigo Eric Clapton, que era famoso por sua adoração a doces. O arranjo de sopros foi escrito por Chris Thomas, que era assistente de George Martin. Depois dos metas prontos, Harrison teve a idéia de pedir ao engenheiro Ken Scott que distorcesse o som. Scott conseguiu o efeito desejado enviando os sopros em dois amplificadores saturados. Antes de mostrar aos músicos, George de antemão pediu desculpas pelo que eles ouviriam. A surpresa não agradou muito aos instrumentistas, mas fazer o quê?

Cry Baby Cry – Em “Cry Baby Cry”, John se inspirou em um comercial de flocos de milho que mandava que as crianças chorassem para suas mães para conseguir o biscoito. A gravação é recheada de brincadeiras envolvendo o panorama vocal dentro da canção.

Revolution 9 – Não podemos chamar essa de música. “Revolution 9” é um bando de colagens, pedaços de canto de Paul, diálogos, gritos e uma voz em loop dizendo “number nine”, que foi encontrada por Lennon em uma fita nos estúdio da Abbey Road... um verdadeiro Mantra. “Number 9” é, com certeza, a peça experimental de maior alcance público já apresentada.

Good night – Cantiga de ninar composta por John para seu filho Julian e cantada por Ringo. Surpreende pela doçura e delicadeza da letra, totalmente oposta ao que Lennon costumava escrever.

Na história da música existem grandes álbuns, com marcas inegáveis e números assombrosos... mas para poucos a vida começa aos 40!!!

1 comentário

Carol Bonando disse...

Oi, então eu gostei muito. Achei grande, neh... pra variar heuahuehae
Mas gostei!
Faz tempo que não produz novamente. Tô sentindo falta de uns textos curiosos sobre música aqui.

Abração

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